terça-feira, 16 de março de 2010

INÚTIL


In this proud land we grew up strong
We were wanted all along
I was taught to fight, taught to win
I never thought I could fail

No fight left or so it seems
I am a man whose dreams have all deserted
I've changed my face, I've changed my name
But no one wants you when you lose


Peter Gabriel



O que define uma pessoa inútil?

Bem, como alguém já disse, ninguém é totalmente inútil pois pode ao menos servir de mau exemplo mas, voltando: é razoável a gente se sentir inútil porque não ganha dinheiro?

Parece que sim. Não importa o quanto você faça em casa, o quanto você queime todos os seus neurônios em tentativas frustradas de negócios, se esfole na procura absolutamente infrutífera por emprego, que preste todo o tipo de favores para um monte de gente.

Em nossa sociedade, se você “não faz dinheiro” você é um inútil.

Independente de longuíssimas elucubrações sobre o formato social no qual estamos vivendo, acho que isso começa lá atrás, quando ainda somos crianças e, mal sabendo falar direito, já temos de responder à pergunta “o que você quer ser quando crescer?”.

Lembro que queria ser astronauta. Não tinha a menor ideia do que era ser um astronauta (a maior parte das pessoas adultas ainda não sabe), mas queria ser um. Por quê? Vai saber...

E porque temos de “ser algo”, sendo esse algo uma profissão? Parece uma pergunta idiota, mas pense, saia da superfície, prenda o ar e mergulhe fundo nessa questão: uma profissão ou atividade econômica é o que define a pessoa em nossa sociedade. Carlos "é" médico, Eduardo "é" dentista, Márcia "é" analista de sistemas... Todo mundo “é” uma profissão, ninguém "é" somente gente, somente uma pessoa, um humano, uma unidade carbono do quarto planeta do sistema solar.

A gente deveria ser livre para, apenas, sermos nós mesmos. A resposta “correta” para tal pergunta deveria ser, já em nossa tenra infância (se eu tivesse filhos ensinaria essa) “eu não quero ser, eu já sou: eu sou eu mesmo”.

A pergunta é que está errada. O certo é “o que você vai fazer pra ganhar dinheiro e se sustentar quando crescer?”, mas alguém, politicamente correto, dirá que isso estressaria a criança. Talvez a pergunta fosse assim antes de resolverem resumi-la.

Pois bem, como não arrumo emprego nem consigo fazer pequenos negócios darem certo, não me sinto à vontade para dizer que sou publicitário. Afinal, essa é apenas minha formação acadêmica. Não me sinto à vontade para dizer que “sou” MBA em marketing, afinal esse foi apenas um curso noturno que fiz sei lá por que.

Então eu sou... O quê?

Minha agonia existencial terminou hoje pela manhã, quando fui fazer a declaração do Imposto de Renda de minha mulher. Descobri ali no programinha do IR uma definição para mim:

- eu sou o código “51 – pessoa absolutamente incapaz”.


3 comentários:

  1. É, tbm me encaixo nisso. Meu marido me chamou de inútil hoje por eu não encher a fôrma de gelo. Imagina do resto, do que ele me chama! :(

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  2. Meu marido tambem me chama de inutil ,embora eu faço todas as atividades de casa esqueço pequenas coisas ja e o suficiente para ele me chamar de inutil ja esta virando habito.E ele nem esquenta como eu fico,porque voce faz tudo para agradar e no final por causa de um pequeno erro vira inutil , ele diz tanto que eu ja estou quase acreditando que sou inutil.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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