terça-feira, 20 de julho de 2010

Deprimido é uma merda.


“O depressivo sofre de uma liberdade conquistada, porque não sabe desfrutá-la”. 
Elisabeth Roudinesco - “Por que a psicanálise?”.


Não importa o quão boa seja a notícia, o quão elevado seja um comentário ou opinião, a gente sempre vê o lado negativo das coisas. Que saco isso!...

Estive “me observando” e notei que faço isso constantemente. Se me elogiam, logo penso em retrucar apontando minhas falhas. Se recebo uma boa notícia, de imediato comento sobre o lado ruim da coisa. Se algo bom acontece, fico prevendo possíveis conseqüências nefastas e desdobramentos negativamente inesperados.

Quanto disso é pura chatice e quanto é seqüela da depressão? Eu não era assim “antes”...

Então comecei a me policiar, me esforçando em ao menos manter a boca fechada. Penso em todas essas “negatividades” mas evito dizê-las e estragar o dia dos outros (isso não vale aqui no blog, pois essa é a razão dele existir).

Quanto disso é fuga? Quanto disso não é medo de encarar uma realidade da qual “penso” não gostar? Porque não fico, muito mais simples seria, feliz com um elogio ou uma boa notícia e, ao contrário, me recolho entre as nuvens negras de pensamentos depressivos?

Certa vez, em “O Poder do Mito”, de Joseph Campbell, li a estória que ele conta sobre um nativo africano que vivera toda sua vida na mata fechada e que, acompanhando uma expedição, ao chegar na planície aberta apavorou-se. Não tinha noção de distância, de perspectiva e vendo os animais – que na verdade estavam bem longe – amedrontado correu de volta para a floresta.

“O depressivo é aquele que percebe o campo aberto à frente dele e percebe também o medo que ele tem de ocupar esse campo. Porque dá medo mesmo”, diz Maria Rita Kehl, de “O Tempo e o Cão” em entrevista a Lisandro Nogueira e Luciene Ferraz, revista Época.

Será que, tão acostumado a ver tudo pelos filtros cinza de depressão, simplesmente não sei ser feliz?

Será possível que, como o nativo acostumado à mata fechada, estou eu acostumado às nuvens negras da depressão e apavoro-me ao imaginar sair dessa "zona de conforto"?