segunda-feira, 16 de março de 2009

RÚEMÁI?


Alguns enxergam até certo charme ou poesia numa pessoa deprimida, mas isso quando a criatura deprimida é famosa, poderosa ou simplesmente rica.

Ludwig Van Beethoven, Abraham Lincoln, Santos-Dumont, Winston Churchill, Kurt Cobain, Alanis Morissette, Virginia Woolf...

Alguns, no entanto, não são famosos, não fazem nada relevante e, muitas vezes, não são ou deixam de ser produtivos. São só uns manés anônimos, chatos e tristes. Meu caso.

A medicação tirou-me do fundo do poço, a terapia deu-me certo equilíbrio. Mas pararam por aí. E não farão milagres.

Tenho mania de emprestar frases ou versos de músicas. Pois bem, como canta David Bowie em Something in the Air, "...Ive danced with you too long...".

É isso. Foi tempo demais, anos a fio dançando ao som da depressão. A correria da vida em uma megalópole rouba grande parte de sua atenção e você percebe sim que ela o acompanha, mas não tem tempo de refletir. Sai correndo pela manhã, volta cansado à noite. E assim ela vai te levando para cada vez mais fundo, mais fundo...

Apesar de Hollywood insistir nos finais felizes, ninguém sai impune depois de tanto tempo deprimido.

Você jamais volta a ser como era antes dela apoderar-se de sua alma. Na melhor das hipóteses, assim como após um grave acidente automobilístico, sobrevive mas talvez perca um membro, carregará consigo as cicatrizes, as marcas, algumas dores crônicas para o resto da vida.

Tanto tempo depressivo e auto-anulado, não havia mais "baixa auto-estima", mas sim apenas "baixa-estima" ou "ainda-mais-baixa-estima", pois a palavra "auto" poderia dar um sentido de algo elevado a quem ouve. Agora não sei mais quem sou eu de verdade.

É comum entre deprimidos e principalmente distímicos achar que a gente não ESTÁ assim, mas que SOMOS assim. Sou mesmo o cara deprimido de há tantos anos? Quem eu era antes disso?

O mundo parece ter ficado mais grave, já não rio tanto. Mas me acostumei com o que me tornei. Não que eu goste mas, como disse Jack Nicholson naquele filme, "...e se melhor for impossível?...".