sábado, 5 de dezembro de 2009

DEPRESSÃO - O MELHOR REMÉDIO


Pesquisa é o processo de entrar em vielas para ver se elas são becos sem saída.
Marston Bates


Eu tenho uma pequena coleção de textos sobre o tema desse blog e só agora me lembrei de compartilhar com você que vem até aqui ler meus posts.

Talvez você já os conheça, mas acredito que possam ser úteis a alguém que passa pelo mesmo que passamos.

Procurei artigos que considerei ou me pareciam "sérios". Portanto não encontrará aqui aquelas pérolas sobre "a cura" da depressão, nem apresentações ppt com bebês sorrindo, cães dormindo ou crendices diversas.

Estão ali, coluna à direita. Se tiver conhecimento de algum bom artigo, comparti-lhe.

Eu acredito que o melhor remédio para a depressão é conhecê-la, entendê-la, saber como nos afeta, porque nos afeta. Não que isso vá curar-me, mas faz com que eu me sinta menos mal. Experimente e me conte depois.

Ah, mais uma coisa: algumas pessoas tem feito comentários aqui no Crônicas e eu gostaria de respondê-los ou comentá-los, mas não consigo se os deixam como "anonimous". Acho que se se identificassem o blog ficaria mais dinâmico, uma troca de experiências, uma conversa entre iguais.

É isso aí.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

FIZ NADA...

"...Será que o Diabo fez o mundo enquanto Deus dormia?..."
Tom Waits


Era final de 2006, mais exatamente 20 de dezembro, quando fui demitido da empresa onde trabalhava desde apenas janeiro do mesmo ano.

Não foi algo unilateral nem inesperado. Era um publicitário tentando atuar como técnico atuarial numa empresa de planos de saúde. Não podia dar certo mesmo. Falei com os superiores, pedi que me mudassem de área, mas havia empecilhos salariais e políticos. Resultado: rua.

Mas eu já vinha apresentando há mais de dois anos um comportamento definido por colegas como sorumbático. Acho que tudo começou a degringolar dois anos antes, na empresa em que trabalhei antes dessa em que fui demitido. Nela eu percebi que era o patinho feio, um peixe fora d’água, pois já estava longe de meu habitat natural. Era uma empresa de seguros, cheia de administradores, advogados, matemáticos, técnicos atuariais. Terreno hostil para um publicitário.

No tal fatídico mês de dezembro eu sentia dores terríveis nas costas, tive de ficar uma semana em repouso, faltando do trabalho. Pouco antes disso, peguei uma gripe como nunca havia tido até então. Também faltei uns dias do trabalho. Trabalhei quase nada neste mês.

Assim, entrei em 2007 deprimido, desempregado e sem um plano B. Que tivesse! A tormenta mental que o estado depressivo causa me impossibilitaria de enxergar possibilidades, oportunidades, planejar qualquer coisa teria sido extremamente penoso.

A depressão tomou conta de meu espírito, de minha alma, de minha mente, de meu corpo.

No supermercado, por duas vezes, ao ver aposentados e pessoas idosas fazendo suas compras à minha volta senti as trevas me abraçarem, o carrinho parecia pesar uma tonelada apesar de ainda vazio e tudo o que eu queria era que apagassem a luz para que eu pudesse deitar e ficar ali, no chão, no escuro, no silêncio, para sempre. Com dificuldade para respirar e a força da gravidade elevada à milésima potência sobre meus ombros, o esforço para continuar a empurrar o carrinho, fazer as compras e me comportar como uma pessoa normal, sã, quase me levou às lágrimas, o que me faria sentir ainda mais ridículo.

Em outras duas ou três situações, indo a algum compromisso, desisti no meio do caminho tamanha era minha inexplicável aflição. Faltava ar, a cabeça girava, confusa. Eu parava o carro em ruas escuras, deitava o banco, fechava os vidros, os olhos e ficava por horas em silêncio. Só voltava pra casa quando era mais ou menos a hora em que deveria chegar, evitando explicações por chegar cedo.

Por diversas vezes a agonia era tão sufocante que pensei em sumir, largar tudo, sair pelo mundo deixando essa vida para trás, mais ou menos como o garoto de Natureza Selvagem. Estive muito, muito perto de fazer isso.Acho que se fosse mais jovem teria feito, mas os anos vividos trouxeram mais que duas hérnias de disco... Sabia que essas crises passavam e a idéia ia embora, temporariamente.

Mesmo assim, num esforço hercúleo, comecei a prestar pequenos serviços de marketing. Fiz um folder aqui, um folheto ali, criei um logotipo acolá.

- diagramei livro de normas da Agência Nacional de Saúde;
- criei logotipo para uma consultoria jurídica, além de cartão de visita e papel carta;
- o mesmo para uma consultoria de seguros;
- criei logotipo para empresa do marido de uma ex-colega;
- produzi um folder e apresentação ppt para uma empresa de tecnologia do marido de outra colega;
- prestei serviços de marketing à fábrica de meu pai, criando folhetos, web site, rótulos...;
- acabei indo trabalhar na fábrica, viajando 220km três vezes por semana para ir e voltar;
- ilustrei meu primeiro livro, escrito há uma década;
- escrevi e comecei a ilustrar o segundo;
- escrevi o terceiro;
- mantive ativo o blog Pausa prum Café, com alguns textos bastante elogiados pelos poucos que o visitam;
- comecei e mantive outro blog, o Crônicas de um Deprimido Crônico, que tem até seguidores;
- escrevi textos diversos e distribuí em vários sites na web;
- participei de concurso de criação de mascote para web site vegetariano;
- tentei a idéia de produzir camisetas focando os direitos animais e posse responsável;
- comecei a prestar serviço a duas novas corretoras, criando folder, folhetos, mala-direta, peças promocionais/institucionais...
- aprendi, me virando sozinho e tateando no escuro, a mexer com softwares profissionais como Photoshop, Painter, Dreamweaver, Publisher;
- tornei-me um “faz-tudo” em casa, troquei todas as tomadas e interruptores, luminárias, mudei móveis de lugar, montei móveis novos...

...E algumas outras coisas que não me lembro agora.

Nesse meio tempo, cursei um MBA em marketing e meu TCC foi a melhor nota da classe, fiz religiosamente as compras semanais em supermercado sem esquecer das pequenas urgências resolvidas no varejão ou padarias e encomendas de congelados.

Passeei diariamente, chovesse ou fizesse sol escaldante, com minhas duas cachorrinhas, além de levá-las pontualmente ao seu banho semanal em pet shop e manter a higiene em casa quando a coisa desanda, principalmente depois que adotamos duas felinas.

Mantive as contas pagas dentro de seus prazos.

Li, por baixo, dúzia e meia de livros, boa parte deles sobre depressão, ceticismo em relação à fé e religião, ética, direitos animais e uns poucos de humor.

Não consegui arrumar emprego, parei de tentar e essas minhas atividades profissionais, desenvolvidas num pequeno home Office que montei num quarto, me renderam pouco ou nenhum dinheiro, pois meus clientes são colegas com suas empresas iniciando atividades, ou seja, sem faturamento. Ficou a promessa de que um dia me pagam.

Na pior das hipóteses, aprendi muito e mantive a cabeça ocupada e produtiva.

Aí, três anos depois, agora sentindo que o fundo do poço está um pouco mais longe lá em baixo, minha mulher reclama:

- Pô, você fica aí sem fazer nada!...

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

AUTO-AJUDA NÃO AUXILIA QUEM REALMENTE PRECISA


Como é que algo que é vendido a milhões de pessoas pode se chamar "O SEGREDO" ?

eu mesmo


A capa da Veja desta semana apresenta matéria sobre a praga da auto-ajuda, que consome espaço nas prateleiras das livrarias, e provavelmente um monte de gente vai encher o peito pra falar bem desse troço, mais ou menos assim: “Tá vendo? Até saiu na capa da Veja!...” como se isso tivesse algum mérito ou tornasse a coisa séria ou científica.

Então, antes que você vá à livraria mais próxima gastar sua grana e deixar os autores ainda mais milionários, pense mais uma vez...

Repetir frases positivas como "Sou uma pessoa querida" ou "Vou ter sucesso" faz com que algumas pessoas se sintam piores em relação a si mesmas, ao invés de elevar a autoestima, destaca um estudo divulgado nos Estados Unidos.

"Desde pelo menos a publicação do livro de Norman Vincent Peale 'O poder do pensamento positivo' (1952), os meios de comunicação têm estimulado as pessoas a dizer coisas favoráveis sobre si mesmas", afirma o estudo coordenado por psicólogos canadenses, publicado na revista Psychological Science.

O estudo cita uma revista popular de autoajuda que recomenda aos leitores: "Testem recitar: 'Sou poderoso, sou forte e nada neste mundo pode me deter'". Mas o conselho não funciona para todos.

As frases positivas sobre si mesmo fazem com que as pessoas que já se sentem mal em relação a si mesmas não fiquem melhor, e sim pior, conclui o estudo coordenado pelos psicólogos Joanne Wood e John Lee, da Universidade de Waterloo, e Elaine Perunovic, da Universidade de New Brunswick.

No estudo, os especialistas pediram a pessoas com baixa e alta autoestima que repetissem a frase "Sou uma pessoa querida", para em seguida medir os estados de ânimo e os sentimentos dos participantes. Eles detectaram que os indivíduos que começaram o estudo com baixa autoestima se sentiram piores depois de repetir a frase.

"Penso que o que acontece é que quando uma pessoa com baixa autoestima repete pensamentos positivos, provavelmente tem pensamentos contraditórios", declarou Wood à AFP.

"Portanto, se afirmam 'Sou uma pessoa querida', podem estar pensando 'Bem, nem sempre sou querido' ou 'Não sou querido neste sentido' e estes pensamentos contraditórios podem fazer transbordar os pensamentos positivos", explicou.

Apesar dos pensamentos positivos parecerem efetivos quando integram uma terapia mais amplia, sozinhos tendem a reverter o efeito que supostamente devem ter, segundo Wood.
O psicólogo afirma que os livros, revistas e programas de TV de autoajuda devem para de dizer às pessoas que apenas a repretição de um mantra positivo levantará a autoestima. "É frustrante para as pessoas quando tentam e não funciona".

Os psicólogos sugerem que pensamentos positivos fora da realidade, como “eu me aceito completamente”, podem causar pensamentos contraditórios em pessoas com a auto-estima baixa. Estes pensamentos negativos podem, assim, sobrepor os pensamentos positivos.

Os pesquisadores concluem no estudo que “A repetição de frases auto-afirmativas podem beneficiar algumas pessoas, mas produzem efeitos negativos naquelas pessoas que mais precisam do benefício”. [Science Daily]

ONDE OS TRISTES NÃO TEM VEZ



Monstros são reais e fantasmas são reais também.
Vivem dentro de nós e, às vezes, vencem"

Stephen King


Alguém chega e conta, em tom elogioso, como fulano é forte, como parece que ele está bem e sorrindo apesar da enorme cirurgia pela qual passou, está pra cima, alto astral...


Poucos dias antes, outra pessoa me conta como beltrano é um cara positivo, pois passou por uma químio violenta para enfrentar seu câncer, chegou a prever poucas semana de vida, mas sempre de bom humor, nunca deixou a bola cair e agora está aí, feliz...

Essa é uma das maiores perversidades da depressão: sobre sua doença não há nada visível e palpável em você, nada que mostre aos demais o quanto você está sofrendo, nenhuma cicatriz, nenhuma bereba, quase nada diferente em sua aparência denuncia quanta dor emocional, quanta agonia espiritual, quanta angústia existencial, quanta dificuldade nas menores coisas você está sentindo.

Pelo contrário: as pessoas percebem apenas a superfície e logo tratam de julgá-lo um lerdo, um boçal de ânimo azedo, um vagabundo que não levanta do sofá pra nada, alguém que está de frescura.

Não é questão de receber cafuné – o que seria ótimo – nem confetes, nem que sejam totalmente complacentes com você e fiquem dizendo o tempo todo “coitadinho, coitadinho”, mas que reconheçam que algo não está bem com você e tentem, ao menos tentem tratá-lo adequadamente e não o acusem jocosamente de estar fazendo manha, se escondendo. Isso só aumenta a culpa que persegue o deprimido.

Oras, dirão, mas fulano teve câncer e fez uma quimioterapia que quase o deixou um lixo e fizeram um corte “desse tamanho” em beltrano e nenhum deles ficou aí desanimado, pra baixo, macambúzio. Nenhum deles fez esse tipo sofredor como você...

Mas cânceres e cirurgias, por mais horríveis que sejam, são problemas que podem levar qualquer um à depressão e a um comportamento tristonho, sorumbático, mas não necessariamente. Nesses casos, os problemas podem levar à tristeza, mas no caso da depressão é o contrário: é a tristeza que se instala, a tristeza É a doença, e, muitas vezes, não há aparentemente – apenas superficial e aparentemente - nada que a cause, nenhum corte, nenhum tratamento que faça cair seus cabelos. A tristeza profunda é o problema em si.

É ela que causa a lentidão, as dores inespecíficas por todo o corpo, a dificuldade em dar um passo e muitas vezes um sorriso, a vontade de ficar na cama, a torcida por amanhecer chovendo.

Mas ninguém parece entender isso. Não entendem também que os heróicos que passaram por cânceres e cirurgias com um sorriso sofreram sim, mas somente para si mesmos, talvez por acreditar que negando a situação em que estavam ela passaria mais rápido ou não a sentiriam tanto, talvez com vergonha de parecer um coitado para as pessoas. Mas eles sofreram sim, e muito, só não precisaram que ninguém fizesse algum mínimo esforço para entender pelo que estavam passando.

Já até briguei com familiares. Se não compreendem meu problema, leiam, estudem, demonstrem algum interesse. Há excelentes artigos na web.

Aí alguém lembra que, dia desses, leu alguma coisa sobre florais para gente deprimida...

E depois não sabem por que deprimidos se afastam das pessoas.

O link abaixo leva a um teste rápido para ver como anda sua deprê. Não sei de sua validade científica, mas aí vai:
http://depressao.sites.uol.com.br/