terça-feira, 27 de abril de 2010

EFEITOS COLATERAIS

I'm freaking out
So, where am I now?
Upside down
And I can't stop it now
It can't stop me now
oooh Oooooh Oooohhh

I - I'll get by
I - I'll survive

Alice - Avril Lavigne



Na Folha de São Paulo dia desses pude ler artigo sobre os efeitos colaterais dos medicamentos antidepressivos e como boa parte dos profissionais de saúde dá pouca importância a eles.

Havendo certa quantidade de medicamentos de eficácia semelhante, resta ao paciente escolher qual efeito colateral é mais suportável. Como a decisão por um ou outro medicamento é baseada apenas na anamnese, na conversa com o psiquiatra, pois os níveis de serotonina em seu cérebro não podem ser medidos em laboratório, em muitos casos é necessário ajustes da dose ou troca de remédio.

Digo isso por experiência própria. No início de meu tratamento me senti bem com o primeiro remédio, bem mesmo... Até que minha esposa me alertou: eu parecia um zumbi, ficava vendo TV quase sem piscar. Era verdade, eu parecia estar meio viajandão. Isso sem falar nos problemas na “hora H”.

Aumento de peso, dores de cabeça, tremores e diversos outros são efeitos colaterais amplamente relacionados aos antidepressivos, mas há um pouco explorado: a perda do mojo.

Um efeito colateral não dos antidepressivos mas da depressão é ter uma visão mais aguda dos fatos, das coisas, da vida. É experimentar sentimentos que, apesar de torturantes, antes desconhecia. É ter acesso ao fundo da alma. É vivenciar um conflito constante com a realidade à sua volta.

E, assim, com sorte se tiver uma queda para escrever, trazer à tona palavras cheias de sentimentos.

Os medicamentos antidepressivos acabam com isso, tiram de você aquele “talento” para ver as coisas de modo diferente da maioria, eliminam ou diminuem drasticamente seu conflito com a realidade. Psicológica e emocionalmente, sofre-se menos, passa a aceitar o mundo à sua volta com menos revolta, com menos angústia.

Ao longo do tempo percebi – e admito que pode ser efeito de atenção seletiva, mas vá lá – que sou mais crítico, mais mordaz e criativo quando não estou tomando nada. Sob efeito de comprimidos, as coisas ficam razoavelmente numa boa, perco a vontade de criticar, perco o senso de observação aguda.

Não que me transforme num zumbi, longe disso mas, numa comparação um tanto exagerada, diria que tomar antidepressivos, em alguns casos, é como decidir pela pílula azul e voltar a viver confortavelmente na Matrix.

Será que Neo foi um idiota por escolher encarar a realidade nua e crua?