terça-feira, 3 de agosto de 2010

FELICIDADE OBRIGATÓRIA

Em artigo no Estadão de hoje, Arnaldo Jabor toca num tema velho conhecido nosso: o da atual “obrigação” de ser feliz.

Dois parágrafos dele:

Hoje, a felicidade é uma obrigação de mercado. Ser deprimido não é mais "comercial". A infelicidade de hoje é dissimulada pela alegria obrigatória. É impossível ser feliz como nos anúncios de margarina, é impossível ser sexy como nos comerciais de cerveja. Esta "felicidade" infantil da mídia se dá num mundo cheio de tragédias sem solução, como uma "disneylândia" cercada de homens-bomba.

A felicidade hoje é "não" ver. Felicidade é uma lista de negações. Não ter câncer, não ler jornal, não sofrer pelas desgraças, não olhar os meninos malabaristas no sinal, não ter coração. O mundo está tão sujo e terrível que a proposta que se esconde sob a ideia de felicidade é ser um clone de si mesmo, um androide sem sentimentos”.

Acho que o Jabor andou lendo Maria Rita Kehl...

Artigo completo no Estadão:
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100803/not_imp589550,0.php

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

CULPA

Limb by limb, tooth by tooth
Tearing up inside of me
Every day, every hour
I wish that I was bullet proof

Bullet Proof - Radiohead


Todo mundo que já leu algum artigo sério sobre depressão sabe que a “culpa”, esse sentimento dilacerante, é uma constante nos acometidos pelo transtorno.

Muitos já leram também – e eu citei aqui – que a auto-ajuda não auxilia quem realmente precisa, e eu coloco na categoria de auto-ajuda aquelas mensagens e vídeos sobre alguém que sofreu muito, tem grave deficiência ou doença mas deu a volta por cima.

Muita gente parece gostar de receber esses vídeos ou apresentações em Powerpoint. Aparentemente, o efeito esperado é algo como “...oh, veja como esse aí sofreu. Eu até que estou bem comparado com ele...” e o indivíduo sai - iludido - achando que a vida dele nem é tão ruim.

Eu detesto, e nem é porque são bregas ou chatos, mas porque em mim resultam numa piora de meu estado. Ou resultariam, se eu não conhecesse esse mecanismo e não lutasse contra ele.

Dia desses recebi um vídeo sobre um cara sem braços e pernas. Não vi mais que dois segundos e por isso não sei o que o cara apronta, mas com a sugestiva frase “Pare de reclamar da vida” já fiquei puto.

Minha leitura – e a de muitos depressivos - é: “...ah, o cara não tem braços nem pernas mas está aí, desfrutando da vida, fazendo isso e aquilo enquanto eu estou aqui super saudável mas semi-morto ... Sou um merda mesmo...”.

Com braços e pernas normais, o efeito em mim é o contrário do esperado e, apesar de conhecer esse processo mental, não é fácil controlar o sentimento de culpa que sobe pela garganta como um vômito. Culpa por não reagir a contento, culpa por não ser o que esperavam de mim, culpa por não ser o que EU esperava de mim... culpa... culpa...

E então a garota do caixa pergunta se não quero colaborar com o planeta e colocar as compras em caixas ao invés de sacolinhas plásticas...

O mundo que se exploda!