sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O QUE SOU EU, O QUE É DEPRESSÃO?


I hurt mysef today
To see if I still feel
I focus on the pain
The only thing was real

Johnny Cash


Por diversas vezes numa mesma semana, parece que minha vida não tem mais jeito, nada mais vai dar certo. Horas ou dias depois, uma fagulha de esperança me leva a tocar diversos projetos simultaneamente.


Tem dias que me sinto um traste, o pior dos piores, um inútil que serve apenas como aviso aos demais. Noutros, percebo em mim até algum talento que poderia ser lapidado.

Às vezes “sei” que vou acabar minha vida como um morador de rua, num banco de praça. Em seguida, como um príncipe que jamais perde a realeza, me pego analisando possibilidades futuras.

Meu casamento parece já ter terminado e, como um morto vivo, continua em pé apenas para devorar nosso cérebro. Tenho certeza de que minha esposa está não só farta de mim, mas me odeia. Em seguida, como saído de um pesadelo, tudo parece caminhar às maravilhas, com abraços, beijos e presentes.

Falta memória e esqueço compromissos, nomes, algo que me contaram pouco tempo atrás. E me lembro de coisas que ninguém mais se lembra, letras de músicas, cenas de filmes, pequenos detalhes que muitos nem haviam percebido.

Faço compras de supermercado, levo as cachorrinhas passear, vou ao banco, levo o sobrinho na escola, passo na locadora de filmes, na padaria, vou buscar um vaso novo para o jardim, vou ao banco, ao correio, pego o sobrinho na escola, levo as cachorrinhas ao petshop para o banho... Tudo no mesmo dia ou no seguinte ao que sentia total falta energia para sair da cama ou para levantar do sofá para ir dormir.

Uma angústia inexplicável dá lugar a uma paz extraordinária, uma tristeza que até dói é substituída por um vago sentimento de harmonia, o humor azedo e pessimista é trocado por outro, leve e alegre.

E eu me pergunto o tempo todo: eu sou assim? Será que sempre fui assim e não percebia? Ou é a depressão que faz com que meu comportamento seja uma montanha russa? Ou é efeito da medicação lutando contra a depressão dentro de meu cérebro?

Até onde, nesses picos e abismos, estou “eu” ou está a depressão?

Devo assumir esses momentos díspares como minha personalidade ou desculpar-me por estar passando por um TDM? Ou não é mais possível desamalgamar um do outro, tendo eu então tornado-me isso que sou hoje? Digo aos colegas que sou assim mesmo, esquecido, ou desculpo-me usando a depressão como culpada por ter deixado passar um compromisso, aniversário ou outro qualquer?

Acho que nunca vou saber.