terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

DEPRESSÃO E O ZEN


Talvez eu e você nunca saiamos totalmente da areia movediça que é o TDM, talvez eu seja deprimido crônico mesmo, ou a depressão deixe sequelas.

A depressão me parece ser como as nuvens: elas se dissipam, mas não desaparecem totalmente. O céu chega a ficar completamente azul, mas elas estão por ali, em algum lugar, se formando, à espreita...

Ditados Zen budistas, os verdadeiros, são ótimos para explicar de modo profundo e sem teoriazações intelectuais coisas extremamente complexas – isso só é possível indo ao âmago das coisas, como o Zen faz tão bem - e eles extrapolam o universo filosófico oriental. Ou então minha imaginação é que é fértil...

Um desses ditados (ou koans) diz:

“Quando você se inicia no Zen, árvores são árvores, montanhas são montanhas.
Quando você estuda o Zen, árvores deixam de ser árvores, montanhas deixam de ser montanhas.
Mas quando você finalmente compreende, árvores são árvores, montanhas são montanhas”.
Talvez eu esteja forçando a barra, mas isso faz muito sentido para mim agora que estou com quase todo o corpo fora do banco de areia movediça da Depressão.

Digo isso de uma forma possivelmente simplista, mas me baseio em tudo pelo que passei e na tonelada de artigos que li.

De modos opostos, Zen e Depressão mudam nossa maneira de ver e sentir o mundo ao redor: o Zen, em geral, leva a uma harmonização com o mundo exterior através do equilíbrio interior. Já a depressão...

Não sou um fanático new age querendo influencia-lo, longe disso, mas tendo recebido alguns comentários e contatos por causa de meus posts, gostaria de dizer uma única coisa a todos que passam pelo que passei: ISSO PASSA.

Sei que, se você está na pior fase, não vai querer acreditar, vai retrucar, contra-argumentar, reclamar, resmungar... Mas quem aqui escreve também já teve crises abismais de angústia existencial e descrença absoluta numa solução que não o fim dessa vida - psicológica e emocional - miserável.

Como saí dessa? Posso dizer que foram as inestimáveis sessões de terapia (saudades da Dra. Carmem...) aliadas à medicação. Parei com ambas há algum tempo, quando decidi que eu teria de ser forte, teria de “andar com minhas próprias pernas”. Em verdade, eu tinha até certo medo de me viciar tanto na terapia quanto na medicação e não mais conseguir ir em frente sem elas.

Eu decidi? A terapia me levou a decidir? O medicamente fez meu cérebro decidir?...

Se eu saí de “onde” estava, você sai também. O importante – difícil, extremamente difícil durante os piores períodos – é saber, não acreditar, mas saber mesmo, que passa. Nada mais verdadeiro que “na vida tudo passa, até a uva passa”.

Me redimindo da piada acima, uma última estorinha Zen:

Um praticante de meditação estava triste, infeliz, pois há tempos vinha se dedicando a meditação sem nunca conseguir praticar uma boa meditação, sentia-se sempre desconfortável, agitado interiormente.

Desanimado com sua meditação, resolveu ir a um templo procurar a ajuda de um mestre Zen.

Chegando lá, encontrou o mestre varrendo a entrada do templo, com movimentos precisos, leves e harmoniosos.

-“Minha prática de meditação não está boa; muitas vezes me distraio, meu corpo me incomoda, minha mente se agita...” explicou o praticante.

“Tudo bem, isso vai passar ” - disse o mestre, sem olhar para ele e sem parar de varrer a entrada do templo, com movimentos precisos, leves e harmoniosos

Sem saber o que fazer, o praticante foi embora.

Algum tempo depois o praticante voltou ao templo e foi procurar o mestre.

Encontrou o mestre cuidando das flores do jardim, com movimentos precisos , leves e harmoniosos.

“Minha prática de meditação está maravilhosa; eu me sinto consciente, meu corpo não me incomoda, minha mente está serena “ - disse com alegria e felicidade o praticante.

“Tudo bem, isso também vai passar” - disse o mestre, sem olhar para ele e sem parar de cuidar das flores do jardim, com movimentos precisos, leves e harmoniosos.

Entendeu?