sexta-feira, 9 de outubro de 2009


"FALAR DE MIM É FÁCIL,
DIFÍCIL É SER EU"
- na traseira de uma Kombi.

A tão conhecida sabedoria popular muitas vezes não passa de bobagem situacional, circunstancial, mas de vez em quando acerta o alvo.

Essa poderia ser a frase-tema, o slogan dos deprimidos.

Em "A Vantagem do Tímido", a psicoterapeuta americana Martin Olsen Laney, baseada em estudos não lembro de onde, divide o mundo em 1/3 de introvertidos e 2/3 de extrovertidos. Aliás, aí está um viés do título: a questão não é ser tímido, mas introvertido. Talvez essa palavra não ficasse bem na capa, mas seria mais correta.
Acredito que depressão seja algo ligado muito mais aos introvertidos. Se isso for correto, então talvez possa daí tirar a conclusão de que essa é mais uma das imensas e variadas dificuldades dos deprimidos se relacionarem com as pessoas: a maioria delas - 2 em cada 3 - é extrovertida ou, em outras palavras já utilizadas aqui no Crônicas, formam a turma do Sol-samba-suor-e-cerveja.

Duvida? Escreva algo na internet que seja sério, profundo, que faça pensar e compare a audiência com sites de piadas, de "relacionamentos" ou de bobagens quaisquer. Seu post ficará às moscas binárias... A massa de internautas, em sua maioria, navega para se divertir.

Num mundo dominado por extrovertidos, os introvertidos parecem ter um "problema a ser tratado, curado", uma deficiência. NÃO É VERDADE.

Na escala de valores amplamente adotada atualmente, é verdade: ser retraído ou inibido não combina com a sociedade do exibicionismo, das ocas celebridades Bigbrotheanas, do pensamento superficial.

A dificuldade do introvertido é muito parecida (basicamente a mesma) do deprimido: este não parece ser o seu mundo, por isso aquela permanente sensação de ser o "patinho feio".

Deprimido/distímico que sou, me revoltei: não, não sou eu que tenho problema, nem você leitor, mas sim a atual estruturação de nossa sociedade com valores absolutamente distorcidos.

Quer um exemplos de valores distorcidos? Um médico que estudou por mais de vinte anos precisa trabalhar em três lugares diferentes e dar plantões noturnos para ter uma vidinha classemediana. Uma loira ignorante semianalfabeta só precisa mostrar a bunda para ficar milionária.

Um professor estadual, a despeito da extensa discussão sobre sua qualidade profissional, ganha salário quase igual ao de um gari de rua. O profissional que vai transmitir conhecimento ao seu filho ganha um infinitésimo do que ganha um cretino que canta "Créu".

Grande parte das mulheres, por questões financeiras, deixa de ir ao dentista mas bate cartão no salão de beleza, no dermatologista ou na clínica de implante de silicone.

Sério: somos nós que temos problemas?...