segunda-feira, 5 de julho de 2010

O ESFORÇO E O RESULTADO

"O que mais desespera não é o impossível. Mas o possível não alcançado." (Robert Mallet)

A despeito de suas importâncias ou inexistência de opções, as críticas, comentários e análises a posteriori, além de serem muito fáceis de fazer, carregam um quê de crueldade – e em muitos casos, hipocrisia e covardia também.

Olhando apenas como exemplo, por ser o fato quente do momento, a participação da seleção brasileira na Copa ilustra bem o assunto.

Dunga teve uma trajetória de sucesso durante os quatro anos à frente do time. A própria Globo, em seu jornal noturno, mostrou isso. Apesar de haver críticos e opositores, havia também grande quantidade de elogios. Procure rápido na internet, antes que apaguem, e verá como se dirigiam a ele como “líder nato” e outros adjetivos.

Veja, por exemplo, dois parágrafos retirados de artigo na VOCÊ S/A sobre Dunga:

Numa batalha travada no palco decorado com as cores e humores do adversário, cercada de polêmicas preliminares e rivalidade histórica, o futebol pentacampeão mostrou insuperável solidez, inesperada inteligência e implacável eficácia. Uma equipe com a inconfundível marca do seu líder”.

Sem dúvida uma história inspiradora para muitos de nós que acabaram de chegar a uma posição de liderança e enfrentam, ainda, a desconfiança de um ambiente altamente competitivo”.

Seguindo, talvez, o que é escrito nos mais variados livros de autoajuda e filmes com mensagens engrandecedoras, o técnico da seleção provavelmente “seguiu seu instinto”, “foi contra tudo e contra todos” atrás de seu sonho (quem nunca leu ou viu isso por aí?!).

Todas as suas características, inclusive a tão propalada teimosia, foram vítimas da circunstância. Em outras palavras: nossas qualidades e defeitos são circunstanciais (ahhh, descobri a América...).

Se saísse dessa vencedor, a estória de Dunga viraria livro de administração, seria tema de aulas em MBAs, utilizado como exemplo por gurus de estratégias em palestras caríssimas e mencionado em todo o tipo de artigo motivacional e engrandecedoras mensagens de e-mails.

O problema dele foi o RESULTADO. Não importa o que vc faça, quanto você faça nem como faça. Ninguém se importa com isso, esquecendo o tal do “o importante é competir”. Só importa o RESULTADO. É dele que o resto se desenrolará – opiniões, críticas, comentários.

É ele, e só ele – não seu esforço, nem sua dedicação ou seu sangue, suor e lágrimas – que determinará se você é herói ou incompetente.

A sociedade atual não tolera o fracasso, ignorando completamente que ele é uma possibilidade maior que o sucesso (caso contrário, como já disse por aí, a pirâmide socioeconômica teria de ser virada de ponta-cabeça).

Isso, infelizmente, valeu para Dunga e vale pra todos nós. Pense nisso antes de criticá-lo. Amanhã pode ser você.

2 comentários:

  1. Gosto muito de futebol e, sinceramente, engrossei a fileira dos que caíram de pau em cima do técnico da seleção brasileira. Mas ao ler este ótimo artigo, me dei conta da gravidade de tal conduta (não só no caso analisado, obviamente) e imediatamente busquei mudar de atitude. É sempre bom sermos lembrados daquilo pensamos, falamos e fazemos.

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  2. Copa pra mim geralmente é um patriotismo falso, mas o artigo tá muio bom mesmo.
    Agora todo mundo ofende o Dunga, quando na verdade, não foi ele que estava no campo, é obvio que ele tentou montar uma boa seleção e dar tudo de si, mas hoje em dia a qualidade dos jogadores caiu muito, já que eles também são sub-celebridades! A preguiça mental dos brasileiros começa a refletir no futebol!

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