quinta-feira, 6 de maio de 2010

IGNORÂNCIA PODE SER UMA BÊNÇÃO


Suicídio não é querer morrer, é querer desaparecer.

Georges Perros





Um princípio básico da meditação, prática voltada a acalmar a mente, ao menos no Zen, é deixar os pensamentos passarem livremente, sem se ater a eles. Consideram que é impossível simplesmente não pensar em nada, esvaziar a mente como outras escolas pregam e tenho observado que eles parecem ter razão.

Não dá pra simplesmente não pensar em nada, mas é possível não concentrar-se em coisa alguma em especial, apenas deixar fluir os pensamentos até o ponto em que a mente realmente se acalma, o fluxo de frases, sons e imagens diminui como se uma tempestade se transformasse num lago calmo e profundo.

Mas e as emoções? Tenho dúvidas de que controlando pensamentos conseguimos controlar as emoções, os sentimentos, principalmente em nosso caso, deprimidos e distímicos.

O fluxo de sentimentos e emoções no deprimido, ao menos em meu caso nos piores (e diversos) dias, é caótico, tempestuoso, negativo, desesperançoso, angustiante, aflitivo, torturante.

O estômago revira, a cabeça gira, a atenção dispersa, o corpo inteiro dói, falta ar.

Nestes dias não há meditação que dê jeito e por diversas vezes gostaria muito de ter um botão “on/off”. Não que quisesse realmente dar cabo à minha vida, mas me desligar temporariamente, tirar uma folga de mim mesmo.

Por duas vezes tentei fazer uma “farmacinha” com tudo o que achei de remédios em casa. Leigo no assunto, separei os que achei que davam sono, principalmente anti histamínicos, antipiréticos e analgésicos com dipirona e tramadol. Peguei dois ou três comprimidos de cada e tomei com uma farta dose de uísque sem gelo num gole só.

Consegui apenas uma dor de cabeça daquelas...

O suicídio é tratado por muitos como "a saída mais fácil", "a fuga dos imbecis" ou "a saída do covarde". Duvido que um destes já tenha passado realmente por uma depressão. Como dizia Francesco Orestano, "o suicídio demonstra que na vida há males maiores que a morte".

Tenho medo de ficar paralítico, cego, surdo, acabar minha vida num banco de praça como morador de rua, mas morrer...

Dia desses me chega a notícia de que um colega de trabalho de minha mulher estava internado, intubado, em coma devido a uma overdose de antidepressivos.

Fico sabendo isso só agora que meu remédio acabou e resolvi tentar seguir adiante sem ele.

Puxa, se eu soubesse antes...

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. A depressão naturalmente leva ao desejo de suicídio. Sentimentos de culpa, incapacidade, perda da noção do real significado da vida, temores quanto ao futuro, como se tornar um fardo ainda mais pesado às pessoas que estão ao redor, temperados pelo extremismo que a doença proporciona, são fatores que levaram milhões de pessoas a porem termo em suas vidas.
    A idéia da morte, nas minhas piores crises, se torna muito atraente, mas tento me apegar à falta que causaria às pessoas ao meu redor. Espero nunca perder esta fonte de motivação.

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  3. Vc começa a narração em um caminho e no meio dele pega um desvio... preste atenção, com calma, aguarde alguns instantes e tente separar o pensamento do sentimento. Volte ao lago profundo, naquela calma: quem é aquele que pensa e quem é aquele que sente? Se vc consegue chegar nesse lugar quem é o outro que não chegou lá? Me lembro da sua historia do martelo, quem é o martelo? Vc não pode ser a chave de fenda, muito menos o serrote, o maximo que pode ser é aquele MARTELO...

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  4. Grande Dr. House (meu ídolo na TV),
    excepcional comentário, uma percepção acima da média. Você me pegou no pulo...
    Em terapia, por diversas vezes ficou clara a separação entre o "eu" do sentimento e o "eu" do pensamento. Acredito que eu deveria uni-los, encontrar uma forma de fazer isso, mas ainda não foi possível. Pensamentos e sentimentos ainda, por vezes, correm em separado.
    Além disso, sentimentos e pensamentos durante a Depressão são mesmo ambivalentes, mudam drasticamente de direção aparentemente sem motivo.
    Nesse blog eu não procuro intelectualizar demais aquilo que vou escrever. Apenas escrevo o que dá na telha e, assim, acredito poder passar algo autentico. Dualidade, divisão e às vezes confusão fazem parte desse nosso processo.

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