sexta-feira, 13 de novembro de 2009

DEPRESSÃO E AUTO ENGANO - DILEMA DE TOSTINES



Soy um perdidor, I’m a loser baby, so why don’t You kill me?
Beck


Certa vez, descrevendo como se sentia “naqueles dias”, minha esposa disse que tudo parecia negro, sem futuro, sem esperança de que algo fosse melhorar, tinha vontade de jogar tudo pro alto e sumir, tudo era ruim demais e que era melhor ir dormir para que não decidisse fazer alguma loucura (nem perguntei que loucura seria...).

Pois bem, ela e milhões de mulheres lutam com a TPM em períodos mensais. Não disse a ela, mas luto contra a sensação que ela descreveu diariamente, sem intervalo.

Tem dias que torço para amanhecer chovendo muito, que falte energia elétrica e que a faxineira não venha– ótimo para continuar dormindo, ou melhor, deitado, pois não durmo mais que 6 horas por noite.

Às vezes, como sentia uma paciente da Maria Rita Kehl no livro O Tempo e o Cão, gostaria de estar preso ou internado num hospital, assim seria livre. Livre para continuar a não fazer nada e, preso ou internado, livre de cobranças – minhas próprias e dos outros – pois, afinal, não tinha como sair dali.

Quem disse que o Universo conspira a meu favor? Quem disse que “time is on my side”?

Às vezes eu mesmo tenho dúvidas: será que estou doente, será que sou doente ou o mundo e a vida são assim mesmo e sou apenas um desiludido, como uma criança a quem contam que Papai Noel não existe?

A desilusão em mim tornou-se profunda, talvez demais. Não acredito em quase mais nada. Aliás, praticamente retirei o verbo acreditar de meu vocabulário. Há tempos eu apenas sei ou não sei.

Livrei-me de montanhas de ilusão, de meias-verdades e puras mentiras simplesmente aceitas e não discutidas, enterrei crendices. Tornei-me cético, racional, lógico.

Ver o mundo e as coisas como elas realmente são. Isso me parecia bom e correto, até que me deparei com outra possibilidade. Ia (e ainda vou) comprar o livro Auto Engano, de Eduardo Gianetti, que aparentemente trata do assunto, ou seja, eliminar as verdades que contamos a nós mesmos para nos confortarmos, independente de serem ou não verdadeiras, mas lendo uma das resenhas disponíveis na web deparei-me com frases retiradas do livro que me fizeram pensar:

“...a sobriedade analítica e a acuidade psicológica do pensamento racional – tornam-nos irremediavelmente céticos e mesquinhos...”;


“...como seria a vida se estivéssemos livres de toda a ilusão?... Sem sonhos e sem ilusões, com uma objetividade exagerada o homem deixaria de acreditar em tudo o que não se pode compreender à luz da racionalidade”.

“Sem o auto-engano, em suma, que é o animal humano além de uma ‘besta sadia, cadáver adiado que procria’? A pílula do autoconhecimento e a ‘cura’ radical do auto-engano transformam o ser humano não em modelo de virtude e sabedoria, mas num monstro do qual todos os demais homens… fugiriam como de um espectro insuportável”.

Sou então deprimido porque destruí o auto-engano ou destruí o auto-engano e tornei-me deprimido?...


Um comentário:

  1. Tenho uma depressão há mts anos. Fiquei frustada quando a realidade se começou a afastar do que sonhara. Mas continuei presa à ilusão recusando que a minha ilusão não era maior mais bela mais digna do que a realidade... Agora que ando a matar ilusões mas de facto ainda me sinto uma pessoa mais miserável...

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