quarta-feira, 23 de setembro de 2009


"A maior felicidade é quando a pessoa sabe porque é que é infeliz."
Fiódor Dostoiévski

Hoje o dia está cinza, frio e úmido. Eu também.

Não é à toa que a taxa de depressão e suicídios em países não ensolarados como o nosso é mais alta. Sol, calor, samba-suor-e-cerveja não combinam com a introspecção típica dos deprimidos.

Sobre introspecção, estava viajando na maionese e lembrei de um post que fiz em outro blog meu. Mudei algumas coisas e reescrevi aqui.

Marina Colasanti, profundamente sábia, escreveu em “Eu sei, mas não devia”:

"A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíches porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia”.

De certo modo, o deprimido (nós) é aquele que diz “pare o mundo que eu quero descer”, como cantava Sílvio Brito criticado por Raul Seixas.

O deprimido é aquele que percebe a cretinice das vidas que só tem sentido no consumo, no sucesso profissional ou financeiro. A vida urbana em que se trabalha cada vez mais para poder consumir cada vez mais e, para consumir cada vez mais, trabalha-se cada vez mais. Uma espécie de Trabalho de Sísifo moderno.

Depressão é aquele “pedido de tempo” ao perceber isso. E eu cansei disso. E cansei de estar cercado de imbecis que, na prepotência de sua ignorância, fazem parecer que só eu estou louco.

Aliás, é isso também que Maria Rita Kehl diz em seu livro O Tempo e o Cão, citado no post anterior. O deprimido incomoda, pois a sociedade não gosta de quem a critica e não segue a boiada acéfala e risonha.

Eu pensava em como poderia escapar dessa ciranda tristemente viciosa que a cada dia se tornava mais pesada e sem saída.Foi quando li sobre a estréia de “Into the Wild” (Na Natureza Selvagem, aqui), baseado na trajetória de Christopher McCandless rumo ao Alasca em busca (ou fuga) de... Bem... McCandless morreu e só há interpretações possivelmente contaminadas sobre sua escapada.

Pouco depois li sobre Jonathan Dunham, um ex-professor canadense que largou tudo e está cruzando o planeta a pé acompanhado de seu burro, chamado Judas. Motivo, nem ele mesmo sabe ao certo. Jornais ao longo de sua rota noticiaram que ele estava caminhando pela paz mundial, para estabelecer um recorde ou para divulgar a palavra de Deus.

"Eles sempre encontram algo para dizer", disse Dunham sobre os repórteres que buscam conhecê-lo.

Lendo isso, lembrei-me da multidão seguindo Forrest Gump enquanto corria. Ele apenas corria.

Dias depois, entre minhas séries enlatadas preferidas, vi Jason Gideon (Mandy Patinkin) abandonar a liderança intelectual da equipe de agentes do FBI em “Criminal Minds”, deixando apenas uma carta explicando sobre sua dificuldade em ainda acreditar que as coisas podem dar certo no final.

E espantei-me com Sara Sidle, em pleno breakdown emocional diante de tantas tragédias, despedindo-se de Grisson em “CSI”. A personagem também deixa uma carta dizendo que, apesar de ter feito de tudo para ficar, precisava de um tempo para “repensar”.

São, todos esses, personagens perdidos em seus caminhos e em seu sentido de existência.

Teria sido tudo sintoma de atenção seletiva?

Será que é possível "desacostumar" de tudo e recomeçar em outro lugar?

“- ...E o que você vai fazer quando chegar ao Alasca?" – pergunta o divertido malandro vivido de maneira carismática por Vince Vaughn em “Na Natureza Selvagem”.

“- Apenas viver, cara, viver...”, responde McCandless.



2 comentários:

  1. Exatamente. Um círculo incessante de consumo. Mas o que mais me incomoda em tudo, é a competição exarcebada, um querendo ser melhor que o outro a todo custo. Parece que querem esfregar nas fuças alheias o quanto mais rico e poderoso se é. Pra quê? Sempre me questiono sobre isso. Mas como em uma cena do filme citado por ti, "Na natureza selvagem", meus olhos se enchem de orgulho de mim mesma quando vejo que não me transformei nisso.

    Lembra de quando o McCandless para em frente a um restaurante ou bar (não me lembro ao certo) e se imagina no lugar de um cara engravatado, que está sentado lá, e fica feliz quando se dá conta que ele não virou aquilo? Então.

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  2. E, sim, eu acho que é possível se "desacostumar" de tudo e recomeçar em outro lugar. Eu mesma já pensei várias vezes em mudar de cidade, apesar de ser nova ainda, e logo que eu penso isso me pergunto se mudar de cidade/estado/país resolveria os meus problemas, já que o "problema" está em mim (apesar de eu concordar contigo e achar que o problema está nas pessoas imbecis). E, por último, com certeza eu seria bem mais feliz em algum lugar sem "sol, calor e samba-suor-e-cerveja". Quem sabe daqui uns anos, quem sabe...

    Lu

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