Alguns enxergam até certo charme ou poesia numa pessoa deprimida, mas isso quando a criatura deprimida é famosa, poderosa ou simplesmente rica.

Alguns, no entanto, não são famosos, não fazem nada relevante e, muitas vezes, não são ou deixam de ser produtivos. São só uns manés anônimos, chatos e tristes. Meu caso.
A medicação tirou-me do fundo do poço, a terapia deu-me certo equilíbrio. Mas pararam por aí. E não farão milagres.
Tenho mania de emprestar frases ou versos de músicas. Pois bem, como canta David Bowie em Something in the Air, "...Ive danced with you too long...".

É isso. Foi tempo demais, anos a fio dançando ao som da depressão. A correria da vida em uma megalópole rouba grande parte de sua atenção e você percebe sim que ela o acompanha, mas não tem tempo de refletir. Sai correndo pela manhã, volta cansado à noite. E assim ela vai te levando para cada vez mais fundo, mais fundo...
Apesar de Hollywood insistir nos finais felizes, ninguém sai impune depois de tanto tempo deprimido.
Você jamais volta a ser como era antes dela apoderar-se de sua alma. Na melhor das hipóteses, assim como após um grave acidente automobilístico, sobrevive mas talvez perca um membro, carregará consigo as cicatrizes, as marcas, algumas dores crônicas para o resto da vida.
Tanto tempo depressivo e auto-anulado, não havia mais "baixa auto-estima", mas sim apenas "baixa-estima" ou "ainda-mais-baixa-estima", pois a palavra "auto" poderia dar um sentido de algo elevado a quem ouve. Agora não sei mais quem sou eu de verdade.
É comum entre deprimidos e principalmente distímicos achar que a gente não ESTÁ assim, mas que SOMOS assim. Sou mesmo o cara deprimido de há tantos anos? Quem eu era antes disso?

Cara, você se lembra da sua infância? De como se sentia e percebia o mundo? Das impressões que tinha?
ResponderExcluirNão sei quanto a você, mas eu me lembro do quando eu era feliz. Sim, eu fui muito feliz na infância, de verdade.
Hoje, os psiquiatras dizem que eu tenho distimia ou personalidade esquizóide; não chegam a um acordo de maneira alguma. Sinto-me triste e incapaz, triste e incapaz... Acho que atrapalho toda pessoa que me conhece, sinto uma inveja profunda de quem sorri ao meu lado. É o inferno.
Vai passar? Não sei se isso vai passar.
Se eu voltasse a ser a metade do que eu era feliz na infância, poderia levar uma vida normal, e você?
Uma saída é escrever. E sei do que estou falando. Continue a escrever. Dialogar com o nada, também é uma forma de comunicar-se. Afinal o que é o nada senão alguma coisa que apenas não pode ser vista ou tocada. Mas pode ser sentida. E se pode, é por que existe.
ResponderExcluirSe a gente nasce assim ou se fica assim, quê importa? A gente é assim.