domingo, 25 de janeiro de 2009

ERA O QUE FALTAVA...






"Nada é mais humilhante do que ver os tolos vencer naquilo em que fracassamos."

Gustave Flaubert

E então ele tomou consciência de que era um fracassado, aquele tal loser que se ouve nos filmes. Havia fracassado como profissional, como marido, como pai, filho e espírito santo, como esportista, escritor, ilustrador e noutras que já nem se lembrava.

Com isso – e por isso – descobriu também estar passando por um TDM – transtorno depressivo maior. Nem remédio e terapia conseguiam dissipar as nuvens negras que o acompanhavam. Aliás, o remédio que seu psiquiatra havia receitado proporcionava uma série de efeitos colaterais, mas ele apresentou apenas um: diminuição da libido ou, em palavras mais honestas, dificuldade de ereção.

Profissionalmente fracassado, não conseguia colaborar com o orçamento doméstico. Tentando dar menos despesas para compensar sua sensação de ser um fardo pesado, aproveitou-se de sua dupla hérnia de disco para tirar habilitação especial para deficientes.

Amparado pela Lei, iria requerer isenção de pagamento de IPVA, ficaria livre do rodízio e, o melhor, teria isenção de IPI e ICMS na aquisição de veículo “especial” (cambio automático torna o carro especial?...). Isso, claro, quando ou se tivesse grana para comprar um carro.

E agora, como se não bastasse, alguém o lembrava de que precisava iniciar os exames regulares de próstata.

Era a humilhação que faltava: fracassado, deprimido, brocha, aleijado e agora teria de deixar alguém enfiar o dedo em seu traseiro.

Haja antidepressivo... E vaselina.

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